domingo, 22 de julho de 2012

Morena

Abre os olhos, morena
Que é hora de ver se o amor vale a pena
Abre os olhos, pequena
Me diz o que é que te faz tão serena

Sorria, morena
Que o sol resplandece de idolatria
Sorria, pequena
Me faça feliz em te dar alegria

Me beija, morena
Pois quero teus lábios de pão de ló
Me beija, pequena
Não dá pra entender que eu não quero um só?

Me abraça, morena
Me abraça que o frio tem medo de ti
Agora deita, pequena
E vê se não vai mais embora daqui

sábado, 2 de junho de 2012

Auto Derradeiro

Ela admirava todo aquele movimento com a alegria de uma criança. Evidentemente ela queria participar. As pessoas lá fora gritavam, se sacudiam, dançavam, valsavam no insólito baile do caos.

Atrás dela, eu pouco reparava em tudo o que se sobrepunha a qualquer interesse dela em voltar a cabeça, ornada por um louro e garboso rabo de cavalo, para trás. Eu só tinha olhos para a silhueta que tanto admirei, ao vivo, por mais de ano. Era fascinante. Os impecáveis fios louros, bem penteados e alinhados culminando num pequeno coque no topo da cabeça.

Meus olhos desciam e subiam por aquele corpo na mesma velocidade em que as pessoas logo à frente corriam e se projetavam felizes em direção ao resplandecer da liberdade. A cintura me chamou a atenção. Desta vez, não por um detalhe evidente ou minimalista. Foi pela ausência. Onde estavam meus braços que em outros tempos enroscavam-na quando o frio chegava? Ou que a traziam carinhosamente para perto quando carente? Ou que simplesmente a tocavam num simples gesto de intimidade natural aos amantes? Isso foi intrigante. Mas o foi só para mim. Ela agora aplaudia em êxtase o espetáculo de cores e melodias.

Ainda faltava reparar no sorriso, algo obviamente impossível a quem observa alguém pelas costas. Mas este eu não precisava ver. Resolvi ir embora diante da ignorância da menina. Coloquei a mão em seu ombro para chamá-la. Ela virou-se e me abriu o tal sorriso. Algo dentro do peito balançou. Mas eu realmente precisava ir. Beijei-a no rosto e tomei meu caminho. Não fazia sentido toda aquela desordem. Só ela importava. E aquele rabo de cavalo. E a cintura. E o sorriso. Mas este eu não precisava ver. Porque naquele momento, ele fora para mim. Mas, é bem verdade, ele não era mais meu.

O show, afinal, nem sempre tem que continuar.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Náufrago

Quando não pude mais aguentar
Decidi por escrever no mapa de uma história
Um ponto final de uma bela trajetória

Talvez não me rendesse os frutos esperados
Talvez eu não lhe fosse o melhor dos portos
Talvez tenha trocado anos por segundos
E afogado meus sonhos num naufrágio profundo

O marejo do marujo não vê norte, nem terras
Seja rum, seja leite, já está tudo derramado
O malmequer das lágrimas decerto me cega
E me puxa p'ra maré só de ida do passado